sábado, 6 de maio de 2006

O milagre da sobrevivência por um pintelho!


(a destruição causada pela explosão, os carros ficaram desfeitos)

O meu carro cortava o vento nas curvas, ia para aí a uns cinquenta à hora, doido como tudo, possuído. Na faixa contrária vinha um demónio ao volante, a personificação do mal a causar o pânico generalizado. O condutor soltava umas gargalhadas carregadas de maldade e com o gosto a sangue.

O seu riso era maquiavélico e desdentado, a cuspir para o volante. Entrou desgovernando na nossa direcção, deu-se o frente a frente. Eu, frio como um perna de pau não vacilei nem por um segundo, excepto quando larguei o volante para retirar uma crosta de ranho pendurada no nariz. Nervos de aço, coragem de guerreiro.

No último segundo o demónio despistou-se, embatendo com extrema violência no veículo que circulava à nossa frente, criando uma explosão sem igual. As labaredas atingiram os trezentos metros de altura. Um clarão descomunal iluminou a noite, mas eu não vi nada, concentrado que estava em salvar a minha vida e a dos três passageiros que transportava. Eles dependiam de mim, e eu não os desiludi. Ok, desiludi um bocadinho, mas isso não importa para o caso…

O meu carro levou com estilhaços da explosão: pneus, piscas, sofagem, jantes especiais, botões do autorádio… Sem sofrer um único arranhão.


(o meu veículo, após ter atravessado labaredas e estilhaços não sofreu um único arranhão)

Ao experimentar uma experiência de quase morte, o Zé soltou um peido nauseabundo, um pronuncio de morte?


(o Zé largou um peido intragável, largou uma arma de destruíção massiva no habitáculo do meu carro)

Um aroma de podridão que fez com que eu, o Jorge e o Gil quase morresse-mos ali. Aquele pivete tornou o ar do habitáculo do Fiat Punto irrespirável.

Tentei desviar, com um golpe de mestre guinei o volante e o carro andou sobre duas rodas, de lado, apoiado no muro de uma casa. Com uma mão segurava o volante, com a outra mexia no rádio a rebobinar uma cassete que tinha uma música que nos tinha deixado a chorar.


(uma alucinação? não, o carro estava mesmo a voar na nossa direcção)

Enquanto atravessava as labaredas infernais, abri a janela e aproveitei as chamas para acender um cigarro, foi quando o Zé queimou a pêra. Quando me encontrava com a cabeça fora da viatura fui mortalmente atingido por uma borracha da escova do limpa brisas do veículo que explodiu. Ouvi o chamamento divino. Deus chamou o meu nome, apontou-me o dedo e disse:

- Sua besta, não tens vergonha?! Só bebeste dois Sambas? És mesmo um menino.

Ao que eu respondi, ligeiramente envergonhado:

- Mas, ó senhor Deus, eu tinha de conduzir, não podia beber mais!

Deus olhou para mim com um olhar reprovador e disse:

- Meu desgraçado, se tivesses bebido mais Sambas, terias ido embora por estradas secundárias, e desse modo, terias evitado tudo isto.


(a explosão foi visível a olho nu, num raio de quinhentos quilómetros, sem exagero)

Subi aos céus. Ao ver tal coisa, o Zé agarrou-me pelas pernas de modo a evitar que eu morresse. Só que também ele estava a subir. Deus tinha mais força!

O Jorge, num acto heróico agarrou as pernas do Zé, numa tentativa desesperada para me salvar, mas também ele sucumbiu à força do Deus. Em desespero, o Gil agarrou-se aos estofos do carro com os dentes, puxando o Jorge para baixo, vencendo desse modo a força do Deus…

Depois de morto senti-me melhor, cheio de vida de com uma vontade enorme de ir à casa de banho.