segunda-feira, 26 de maio de 2008

A minha vida dava um filme indiano, parte V

A minha vida dava um filme indiano, parte IV

A minha vida dava um filme indiano, parte III

A minha vida dava um filme indiano, parte II

A minha vida dava um filme indiano, parte I

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Banda sonora para uma segunda de manhã

...plena de abafamento, como se fosse um ouriço a quem tivessem arrancado os espinhos um a um e lhe tivessem cuspido em cima, continuo assim numa ânsia de terminar o dia mantendo a sanidade mental

Joan Baez - Here's To You
Divine Comedy - Miranda
Ryan Adams - I Taught Myself How To Grow Old
Cat Stevens - Tea for the Tillerman
The Alan Parsons Project - Timelight
Talking Heads - (Nothing But) Flowers
Johnny Cash - Ring of Fire
The Editors - Sparks
George Harrison - When We Was Fab
Alice Cooper - I Never Cry
The Fratellis - All Along The Watchtower
The Stranglers - Peaches
Bat For Lashes - Sad Eyes
Daniel Johnston - I Had Lost My Mind
Babyshambles - Delivery
Lynyrd Skynyrd - Simple Man
Jefferson Airplane - White Rabit
Bob Dylan - The Man In Me
Mad Season - River of Deceit
Turin Breaks - Underdog
Anja Garbarek - The Last Trick
Belle And Sebastian - Here Comes The Sun
Led Zeppelin - Thank You
The Kinks - Nothing In This World Can Stop Me Worrin' Bout That Girl
Neil Young - Heart Of Gold
The Smiths - Girlfriend In A Coma
My Morning Jacket - Chills
Charlotte Gainsbourg - The Songs that We Sing

segunda-feira, 5 de maio de 2008

A minha melancia está morta!



Ponto único: A minha melancia está morta! Não quero falar sobre isso...
A batalha do Campo Grande



Com quase dois anos volvidos desde o lançamento da primeira obra, venho orgulhosamente anunciar orgulhosamente que o volume de vendas foi nulo. Nem um único exemplar vendido, o que demonstra de forma clara e inequívoca que o rumo que tracei se mantém inviolável.

Ao quinto dia do quarto mês do ano de dois mil e sete, ano e meio, após o vínculo amorável entre o Cavaleiro e a Princesa, o mal desatou a assombrar a sua vida como parelha carnal.

O mal, personificado nas tarefas domésticas, cedo causou transtornos na apaixonada conexão, contudo foi quase sempre superado.
O Cavaleiro, de mãos calejadas, e a Princesa de mãos perfeitas, como se tivessem sido esculpidas pelo maior dos artistas, cedo se desinteressaram das lides da casa. Com esta atitude desmazelada, o palácio foi-se degradando ao ponto de eles se verem forçados a encarar a situação. Esta rudimentar crise teve como manivela de ignição o findar da batalha do Campo Grande.



A Batalha do Campo Grande, ocorrida no jardim com o mesmo nome, constituiu um dos acontecimentos mais decisivos da relação entre o jovem casal. O palácio ficava num primeiro andar, mesmo em frente ao local da batalha. Deste modo o destemido Cavaleiro manjava e pernoitava em casa. Sem esta guerra, o pequeno reino governado pela Princesa teria sido conquistado pelos espanhóis, muito provavelmente, pois eles ainda estavam de olho, tentando deitar ao nosso bem mais protegido: as colheres de pau com alças. O contributo da Princesa foi primordial, pois era ela quem, todos os dias, preparava cuidadosamente o farnel do líder da quezília que defendia o orgulho nacional. Uma sandes de atum e um iogurte, era o que alimentava o Cavaleiro, mantendo-o rijo e fisicamente apto para o duro embate com o seu histórico arqui-inimigo. O seu secular rival: Sujeito a Reboque, este malfeitor liderava o exército inimigo, numa batalha que por acaso não figura nos livros de história, mas que foi das mais marcantes da idade medianeira, algures entre a centúria de 1980 e 1983, altura em que o Cavaleiro adveio ao mundo, tal como o conhecemos hoje, aquando da sua ascensão, abandonando o engatinhar fugaz.



Por um lado, a batalha foi útil para defender o orgulho nacional, mas por outro lado serviu de fosso entre os dois enamorados. O Cavaleiro combatia de sol a sol, não cumprindo as suas obrigações conjugais.
As disputas conjugais, normais em qualquer relação eram de tal modo conflituosas que até o exército atacante recuava, logo que as discussões conjugais se iniciavam, temendo pela sua integridade.

E foi graças a ela que eles dispersaram, recolheram ao seu reino. A Princesa decidiu terminar com a brincadeira do Cavaleiro, arregaçou as mangas, lançando uma demandada de estaladas na cara dos espanhóis, forçando-os a desertar e abandonar aquela campanha. Nunca mais os castelhanos se viram capazes de reunir um número suficiente de homens, de modo a ameaçar o pequeno reino luso. A batalha que durava fazia dois anos e meio, findou ao sentir o peso da mão da Princesa. Nos séculos passados bem como nos vindouros, a lenda da Princesa irá perdurar.

continua...
O regresso do ninja



Depois veio o ninja, e na presença de um possante caule de melancia vacilou, recuando meia dúzia de passos, refugiando-se na distância que o separava do vaso.

O que faz um ninja malvado à porta da minha casa? Que quererá ele? Terá sido contratado? Virá em causa própria? Tenho mesmo de resguardar o meu precioso vaso!

Um vaso verdejante, carregando ervas daninhas que vão chupando a água, roubando-a à minha amada melancia. Planta trôpega, necessitada de carinho. Sedenta de uma atenção que não lhe posso dar em virtude da sua própria segurança face aos horrores que os meus inimigos lhe querem infligir. Nunca uma pobre melancia havia sido alvo de tanto ódio e ganância. Planta que não cresce. Planta que não morre, planta que ali paira, inerte, ligeiramente inclinada, de caule torto, pescoço dobrado, folhas mastigadas pelos bichos que lá as vão trincando.

Escondo o vaso debaixo da janela, longe do alcance do ninja e dos mal intencionados bichos, mas sem grande sucesso, pois os bandidos logo mo descobrem. Levo-o para dentro de casa. Talvez seja a atitude mais imprudente. Uma vez no interior, no conforto proporcionado pela minha casa surge um ser (que por acaso) vive comigo, sendo esse uma criatura bem capaz te combater o meu pé de melancia, que comparado com o meu, cheira bastante menos mal. O ser que compartilha os meus aposentos? O arqui-inimigo da minha melancia, não sabendo eu se por ciúmes ou por pura ruindade.

O seu pé no pé da melancia.
Rebanho de dentes trincando uma côdea dura



Rebanho de dentes trincando uma côdea dura, caída de um balcão, ali, no escuro. Côdea recalcada por um sem número de pés. Marteladas infligidas por um punho calejado mas arestas do solo frio e infértil. Cheiro a frutos secos e cristalizados completamente indolores. Incapaz de se ver no espelho feito em cacos resultante de um golpe de espada ainda presa na bainha. Revolta cordial, respeitosamente contida.
Esta terra não é para melancias



Umas sementes colocadas na terra, mas não por acaso. Uma mão lá as colocou, suavemente na terra fofa. Um punhado de pequenos grãos, umas ovas de melancia enfiadas num buraquinho. Dois caroços negros, retirados de uma pêra abacate.

Foi este o procedimento, religiosamente seguido. Três semanas se passaram, e eu, pacientemente a dedicar o meu cândido afecto ao estúpido vaso. Conversando com as mui nobres sementes, trocando ideias, debatendo diversos assuntos, contando histórias de embalar, regando-as com café. E para quê? Apenas ervas cresciam naquele vaso, como que troçando de mim. Ervas arrancadas uma a uma para pouco depois constatar que algo mais havia florescido. Um magnifico pé de coentros, vindo do nada.