segunda-feira, 5 de maio de 2008

A batalha do Campo Grande



Com quase dois anos volvidos desde o lançamento da primeira obra, venho orgulhosamente anunciar orgulhosamente que o volume de vendas foi nulo. Nem um único exemplar vendido, o que demonstra de forma clara e inequívoca que o rumo que tracei se mantém inviolável.

Ao quinto dia do quarto mês do ano de dois mil e sete, ano e meio, após o vínculo amorável entre o Cavaleiro e a Princesa, o mal desatou a assombrar a sua vida como parelha carnal.

O mal, personificado nas tarefas domésticas, cedo causou transtornos na apaixonada conexão, contudo foi quase sempre superado.
O Cavaleiro, de mãos calejadas, e a Princesa de mãos perfeitas, como se tivessem sido esculpidas pelo maior dos artistas, cedo se desinteressaram das lides da casa. Com esta atitude desmazelada, o palácio foi-se degradando ao ponto de eles se verem forçados a encarar a situação. Esta rudimentar crise teve como manivela de ignição o findar da batalha do Campo Grande.



A Batalha do Campo Grande, ocorrida no jardim com o mesmo nome, constituiu um dos acontecimentos mais decisivos da relação entre o jovem casal. O palácio ficava num primeiro andar, mesmo em frente ao local da batalha. Deste modo o destemido Cavaleiro manjava e pernoitava em casa. Sem esta guerra, o pequeno reino governado pela Princesa teria sido conquistado pelos espanhóis, muito provavelmente, pois eles ainda estavam de olho, tentando deitar ao nosso bem mais protegido: as colheres de pau com alças. O contributo da Princesa foi primordial, pois era ela quem, todos os dias, preparava cuidadosamente o farnel do líder da quezília que defendia o orgulho nacional. Uma sandes de atum e um iogurte, era o que alimentava o Cavaleiro, mantendo-o rijo e fisicamente apto para o duro embate com o seu histórico arqui-inimigo. O seu secular rival: Sujeito a Reboque, este malfeitor liderava o exército inimigo, numa batalha que por acaso não figura nos livros de história, mas que foi das mais marcantes da idade medianeira, algures entre a centúria de 1980 e 1983, altura em que o Cavaleiro adveio ao mundo, tal como o conhecemos hoje, aquando da sua ascensão, abandonando o engatinhar fugaz.



Por um lado, a batalha foi útil para defender o orgulho nacional, mas por outro lado serviu de fosso entre os dois enamorados. O Cavaleiro combatia de sol a sol, não cumprindo as suas obrigações conjugais.
As disputas conjugais, normais em qualquer relação eram de tal modo conflituosas que até o exército atacante recuava, logo que as discussões conjugais se iniciavam, temendo pela sua integridade.

E foi graças a ela que eles dispersaram, recolheram ao seu reino. A Princesa decidiu terminar com a brincadeira do Cavaleiro, arregaçou as mangas, lançando uma demandada de estaladas na cara dos espanhóis, forçando-os a desertar e abandonar aquela campanha. Nunca mais os castelhanos se viram capazes de reunir um número suficiente de homens, de modo a ameaçar o pequeno reino luso. A batalha que durava fazia dois anos e meio, findou ao sentir o peso da mão da Princesa. Nos séculos passados bem como nos vindouros, a lenda da Princesa irá perdurar.

continua...