quarta-feira, 5 de abril de 2006

O Juíz que conhece o Fojo



Depois do período conturbado que se seguiu à operação stop, o julgamento dos prevaricadores foi polémico e mediático. Os média, nomeadamente, a TVI, fez uma proposta milionária pela transmissão televisiva do evento, a par de algumas organizações produtoras de produtos alcoólicos, nacionais e internacionais, que os queriam patrocinar. No entanto, os dois heróis recusaram prontamente a oferta. Por outro lado, as autoridades recusaram que a defesa fosse feita pelos próprios, pois eles ainda estavam bêbados, argumentando que a legislação não o permitia. Foi nomeado um advogado de defesa oficioso, que defendera anteriormente o Bibi e a Fátima Felgueiras.

A 03 de Abril de 2006 começa o julgamento, no tribunal de Esposende. As acusações são de Fuga à Autoridade, Taxa Elevada de Alcoolémia no Sangue, Pisar uma Linha Contínua e Circular em Sentido Proibido.

Até ao final do julgamento, que durou quinze minutos, poucos foram os acontecimentos que alteraram a rotina dos julgamentos no tribunal de Esposende. Este quebrou toda a rotina instaurada, foi emocionante. O defensor oficioso questionou a competência do tribunal de Esposende para efectuar aquele julgamento.

Apesar da questão ser, no mínimo embaraçosa, o julgamento começou logo ali, com a audição das testemunhas. O juiz ouviu-as com aparente apatia.

As testemunhas alegavam que os intervenientes na prevaricação não tiveram culpa no sucedido, pois, estavam bêbados. Logo isso serviria de desculpa para os seus crimes. O juiz batia com o martelo entusiasticamente e ia soluçando, estaria também ele bêbado?

Era pedido à assistência em geral e aos jornalistas em particular que esperassem até ao fim do julgamento, já estavam fartos e cheios de lá estar. Um dos réus insistia fervorosamente em fazer a sua própria defesa, dispensando os serviços do seu advogado. O juiz concordou com a proposta, dando início ao processo.

Réu 1 – Boa dia caro colega, se me permite, apresentar-me-ei…

Juiz – Colega? Você está parvo? Como se atreve a falar comigo nesses termos?

Réu 1 – Sim, somos colegas, ora bem… Quase, sabia que eu também sou juiz? Não de tribunal, mas de futebol, eu sou árbitro, portanto também julgo pessoas e situações, somos portanto colegas!

Juiz – Ó amigo! Porque não disse isso logo de início! O veredicto está tomado, você está ilibado de todas as acusações, aliás, acho que já o vi no jogo Santiago de Ancinhos contra o Nossa Senhora de Semedão! O senhor favoreceu desavergonhadamente a nossa equipa! Muito bem, pode ir, está dispensado! Próximo!

Após um intervalo para que o juiz pudesse ir apressadamente à casa de banho, teve inicio o julgamento do segundo réu, que para seu azar coincidia com a hora de almoço do senhor juiz.

Juiz – Aproxime-se se faz o favor. Você está condenado a prisão perpétua numa prisão de delito comum. Guardas! Levem-no que eu estou atrasado para o almoço!

Réu 2 – Perdoe-me incomodar vossa excelência, mas não acha que eu, pelos crimes que orgulhosamente cometi, não merecia ir para uma prisão de alta segurança? Onde se encontram os criminosos da pior espécie? Lá na Suiça é assim!

Juiz – Aqui quem decide as coisas sou eu! E pessoalmente, acho que você não tem estofo para um estabelecimento prisional de alta segurança! Um menino que frequenta discotecas, que numa noite de sábado à noite vai ao BibOfir.

Réu 2 – Permita-me discordar do seu ponto de vista, caro juiz, eu não me encontrava numa discoteca. Eu sou macho, muito macho! Eu encontrava-me no Fojo, o tasco do Sr. Sérgio, ali, por debaixo da ponte de Fão!

Juiz – Cum caraças meu jovem! O senhor Sérgio! Boa gente, sim senhor! Assim já nos entendemos! Vá lá à sua vidinha, todas as queixas contra si serão retiradas e o caso será arquivado.

E foi deste modo que a sessão deste atribulado julgamento encontrou o seu término. Os dois réus e o juiz combinaram um encontro à porta do tribunal para irem beber uns copos.