segunda-feira, 7 de novembro de 2005

Ontem, hoje e para sempre...

Entro, junto ao balcão
Todos olham de um modo trocista
O empregado já habituado e prevenido
Serve-me um café.
Os hipócritas rindo...
De mim, os sacanas!
Que querem eles?
Será o meu café?
Eles que tentem,



Serei eu o objecto de desejo?
Todos olham para mim!
E bebem café, fumam cigarros...
Penso em ir embora, mas...
Tenho tanto direito como eles!
Olho e eles recusam,
Vou recuar, vou saír...
Que raios, aquele parece ter uma arma!
Será que me vai acertar, não sei??!
Estarei paranóico, não, eles riem de mim!
Será do meu café, será que não o posso beber?
Ele é meu, eles que tentem algo!
Não o posso tomar descansado.
E aquele gajo do jornal, acho que não pára de me olhar!
Bebe café atrás de café, pensa que não reparo.
Não tenho feito outra coisa!
Deixem-me em paz!
Entra mais um gajo, de chapéu!
Quem no seu perfeito juízo usa chapéu! Suspeito!
Será que me segue?
Café, ele pediu um café, mexeu-o com um ar estranho
Olho para ele e marco posição!
Ele vira o olhar e continua a tomar o seu café.
Desta vez é o empregado... que raio quer ele.
Não me chateies, digo eu! Frio? O café?
Ele diz que ainda não o tomei? Merda!
Fico furioso com isto! Avanço para a porta?
Não, isso é o que eles querem!
Será uma emboscada? Estou cercado?
Nada disso, tem calma, disse eu!
Bebo o café? Está frio, que se lixe.
Sinto o sabor na boca, nos lábios...
O aroma mágico do café! Acalmo de imediato!
Fumo um cigarro? Não sei!
Estes gajos são estranhos, não me vou mexer
Não temo, nada fiz, porque me vigiam eles!
Saco um cigarro, merda. Onde guardei o isqueiro!
Será que mo gamaram? Tinha-o neste bolso!
Estou certo, como vou acender esta porcaria...
Olho o empregado, ele sorri, estranho esse gesto.
Viro a cara, peço um isqueiro ao gajo do lado,
Ele não responde, mal educado, disse eu,
Ele resmunga e diz qualquer coisa, fingo não ouvir.
Alguém estende um isqueiro, assusto-me, salto!
Vou contra alguém mal encarado, congelo, ele ameaça-me!
É desta que morro, já sabia que seria hoje.
Com tudo isto caio ao chão, alguém me levanta...
Sinto-o. Estou confuso. Está tudo contra mim!
O empregado acende-me o cigarro...
Eu aceito, embora desconfie...
Sorvo o cigarro, agarrado ao vicio...
Pouso-o no cinzeiro, olho em volta.
Tudo a rir, bem disposto, ou será fachada?
Pois, parece, é uma armadilha!
Um guarda chuva atrás da porta?
Hoje não chove? Estou confuso
Todos olham para mim, rindo
Toca o telefone, sinto um arrepio,
O empregado atende, sorri e fala
Fala e sorri, não tira os olhos de mim
Que falará ele, e com quem, é sobre mim
De certeza, todos querem algo de mim
O suor já me escorre pelas ventas abaixo
Pego no cigarro, meto-o na boca,
Sinto um bafo, pouso-o de novo
Fico com uma nuvem na minha frente
Não vejo nada! Socorro! A nuvem desaparece
Era apenas fumo, do cigarro!
O empregado não pára de tirar cafés,
As pessoas não páram de entrar e de saír,
Menos eu, impávido e sereno.
Absorto em pensamentos vazios
Pego no cigarro, merda, já se apagou.
O empregado toca-me no ombro
Diz que são horas de fechar
Aponta para o relógio
Respondo ter acabado de chegar
Ele ri, goza comigo!
Passei aqui a noite? Tás a gozar?
Não! Disse ele, fiz-lhe a vontade
Fui embora.