segunda-feira, 13 de novembro de 2006

A viagem de regresso a casa



Na decadência do amanhecer de domingo, quatro seres humanóides; uma epopeia digna de figurar na capa do 24Horas. Cantares ao desafio e ranchos folclóricos. Emoção e aberração, medo e alegria, perseguidos por uma aura embriagada. Um calmo e sóbrio, os outros três eufóricos e sem medo de penetrar nas portas do inferno. Deveria ser o destino daquele carro, o Inferno e a penitência eterna, aquelas quatro pobres almas pecadoras. O Mogambilio, o Zé, o Jorge e o Bolas, prevaricadores, almas penadas e bem regadas a percorrer na auto-estrada rumo ao degredo, à repatriação, no regresso a casa.
O voo através das faixas de rodagem tempestuosas levava-os direitos a uma pastelaria, dado o objectivo primordial de comerem algo que aconchegasse os seus espíritos amaldiçoados por uma larica avassaladora. Anões e velhinhas a atravessarem na passadeira, pássaros a atingir a viatura com cagadelas estrategicamente disparadas. Um pequeno-almoço em que o Jorge levou mais de uma hora a mastigar um croissant com fiambre, naquele ambiente enfadonho tudo os incomodava, e tudo se sentia incomodado. Pessoas acabadas de acordar, pessoas que ainda não tinham ido à cama, uma mistura explosiva e inconciliável…