segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Instrumento do sonho



O caleidoscópio permite observar, saborear e viver, bastando para isso rodá-lo. De cada ângulo, uma percepção diferente, uma nova visão do mundo. Um golpe de magia pura. Eu transformo-me num mágico, usando para tal a imaginação, onde me sinto criador de sonhos, habitante do universo da fantasia e plenamente realizado. E é neste Outono chuvoso em que me encontro que saboreio todo o esplendor criado pela simplicidade de um objecto criado pela Mi, que com botões e um rolo de papel de cozinha, obrou uma obra prima, revestida de esplendor e magia, que seduz e maravilha. O pequeno orifício por onde espreito permite-me encetar uma fuga, uma viagem sem espaço nem tempo. Sem lei e sem ponto de chegada. Viajo e isso basta. Chega para me preencher. Vidros coloridos numa superfície espelhada, será isso o caleidoscópio? Será apenas um brinquedo? Um engenho tosco? Nada disso, para o constatar temos de o rodar, de o fazer girar em toda a sua plenitude e de nos permitir a encetar um voo, através de belas imagens, geometricamente combinadas, coloridas em padrões que mudam a nossa percepção, que parecem nunca terminar, a cada volta, algo novo.

E assim passei a tarde de domingo, a viajar, a sonhar e a admirar o amarelo do sol escondido no cinzento das nuvens que preenchiam o céu azul. E ao longe, um arco iris. Gotas de chuva que timidamente me tocavam e um cheiro a castanhas assadas, vindo de um qualquer lugar, ali mesmo, e eu… tão longe.