quarta-feira, 4 de outubro de 2006

Dia Mundial do Animal



Acorda. Tenta chamar a atenção dos donos. Ladra durante cinco minutos e bebe água. Tenta chegar ao estendal da roupa numa tentativa de abocanhar algo com que se entreter. Come qualquer coisa e tenta fugir. Faz xixi dentro de casa deixando os donos zangados. Abana o rabo e faz um olhar cândido esperando não receber uma represália. Por sorte escapa a um castigo. Repara na boa disposição dos donos e entra na cozinha. Com as patas em cima da mesa tenta agarrar um pouco de pão. Não lhe chega com as patas mas lambe vigorosamente um pão com manteiga. É descoberto. Esconde-se durante uns minutos. Entretém-se a escavar o jardim, alegremente dando cabo das plantas. Orgulhoso do seu comportamento Abana o rabo quando chega a hora da sua alimentação. Trinca e mastiga a comida como se o fosse a última refeição. A esta hora ele já terá urinado umas quinze vezes, em locais espalhados pelo seu território. Ladra mais um bocadinho e persegue os donos, tentando morder-lhes os calcanhares e lambendo, enchendo-os de baba. Tenta pela nonagésima quinta vez acomodar-se no sofá da sala, sentindo-se ameaçado por um simples olhar de soslaio proveniente do dono. Rouba um chinelo e corre desalmadamente na esperança de ter chamado a atenção de alguém. Bebe mais um pouco de água. Vê que alguém se aproxima da casa. Num impulso salta em direcção ao portão. Ladra ininterruptamente durante quinze minutos. Cansa-se de ladrar e bebe mais um pouco de água. Dorme um sono. Acorda o mínimo ruído, ladra e volta a dormir. Aventura-se na cozinha onde tenta saltar para o cimo da mesa. É repelido com um simples olhar. Entra no meu quarto e rouba um par de peúgas e esconde-se debaixo na cama, satisfeito a imaginar que tomou uma atitude grandiosa. Estico o braço e recebo uma lambidela. Fico com a mão cheia de baba. Salta para cima da cama e dorme um sono confortável. Feliz da vida vai para o portão ladrar mais um bocado… Assim é, resumidamente, a vida do Nico, o Rei Penico. Quem me dera que esta fosse a história de todos os cães que deambulam pelas ruas, sem dono, sem comida, sem companhia… sem nada…