terça-feira, 3 de janeiro de 2006

Ida ao Cineclube da Póvoa do Varzim



Dentro da Garganta Funda foi o filme em 1972, numa altura em que a pornografia ainda não tinha invadido a internet, os canais codificados de televisão e o mercado de vídeo; e em que o 'fellatio' era considerado pela Lei da Obscenidade um «detestável crime contra a natureza», um pequeno filme rodado em seis dias com um orçamento de vinte e cinco mil dólares, tornou-se um fenómeno ímpar na história do cinema.
Com o documentário «Dentro da Garganta Funda», os realizadores Fenton Bailey e Randy Barbato partem desse filme protagonizado por Linda Lovelace - sobre uma mulher que tinha o clítoris na garganta e era um ás do sexo oral - para a análise da tempestade política e social que este provocou numa sociedade marcada pelos tabus e pela sede de liberdade. Este documentário coloca frente a frente as modestas intenções de quem fez o filme e as gigantescas consequências que isso teve.
A estreia daquele que ainda hoje é o filme mais lucrativo de todos os tempos, numa altura em que nos Estados Unidos a luta pela liberdade sexual e pela igualdade de direitos entre homens e mulheres estava no auge, fez com que ficasse para sempre como símbolo de uma época. A perseguição política de que foi alvo, o talento de Lovelace para os preliminares e o facto de ser uma pedrada no charco das mentalidades americanas em relação ao sexo, ajudam a explicar o fenómeno em que se tornou.
Pelo documentário desfilam inúmeras personalidades, entre as quais os produtores do filme, mas também celebridades que viveram o fenómeno, respeitados escritores e realizadores, jornalistas e sociólogos. Figuras que representam a diversidade de opiniões que existia nesta frente de batalha, onde se lutava sobretudo pela revolução sexual e por fazer valer um dos direitos mais citados da constituição americana – a 1º Emenda.
Wes Craven, o escritor Gore Vidal, John Waters e Hugh Heffner são apenas alguns dos que deixam o seu testemunho sobre a época, neste filme narrado por Dennis Hopper.
Construído com base em imagens de arquivo, imagens do próprio filme; este documentário levanta tantas questões importantes e apresenta tanta informação que acaba por não durar o suficiente (noventa e dois minutos) para as aprofundar. Ainda assim, é uma boa lição de História.