sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Mais uma noite de pavor



Os coelhos voltaram a importunar os meus sonhos, apareceram pela calada da noite enquanto eu dormia descansada e relachadamente, refastelado, de pernas abertas, soltando roncos que ecoavam no silêncio da noite. Aqueles seres felpudos e fofos, detentores dos meus maiores receios, munidos de instrumentos pontiagudos, que subiam pelo meu nariz. E eu ali, inerte, anestesiado pelo medo, soltando apenas alguns gemidos surdos. Entravam-me pela boca e lá ficavam. Horas e horas lá ficaram, os coelhos. Acabando por sair pelas orelhas, provocando-me arrepios. Porquê coelhos? Porque me fazem mal? Roem-me o buço e lambem-me o pescoço, mordiscam-me a cartilhagem da orelha. Arranham-me a nuca… Grande porra de coelhos. Acordo no sonho, desperto, embora continue a dormir. Ajo como se de um caçador me tratasse. Os malditos penetram-me nos olhos que soltam lágrimas de raiva. Aponto a arma a um. Coloco-o na mira, disparo. Recuso o disparo. Não tenho coragem de matar o pobre animal. Ele sente a minha fraqueza. Olha-me nos olhos. Olhos pequenos e tingidos de encarnado. Faz sinal aos outros. Olham para mim e retiram-se, deixam-me sozinho no meu quarto. Como que por magia desaparecem. O meu olhar deambula pela escuridão quando acordo...