segunda-feira, 26 de março de 2007

Finalmente, as fotos do Carnaval



Wednesday, a miuda sádica e um tanto quanto soturna, ela (Eliana) adora brincar com seu desmiolado irmão Pugsley, como não havia nenhum Pugsley na festa, fui eu a infeliz vitima, submetendo-me a vários tipos de tortura... e até gostei!



Ser ornamentado por um belo bigode, delicadamente cortado com uma lâmina prateada, aparado com uma pinça de ouro e por fim, elegantemente penteado com um belo pente de marfim. Esta versão é muito mais romântica que a original, que apenas envolveu um pouco de sabão e uma lâmina de barbear da Bic, descartável, que provoca profundos cortes na região do queixo, que me obrigou a colar pequenos pedaços de papel higénico nas feridas, que saram logo que se coloca um after shave barato, banhado em álcool, que me fez soltar gritos de dor.

Empresário da noite, negociante de carnes, chulo... é assim que popularmente sou é tratado. Sendo eu este espécime raro da raça cigana que gere, a partir da sua barraca um vasto negócio de tráfico de mulheres, prostituição e proxenetismo. É dotado de uma personalidade obscena, agressiva, rude e imoral, caracteristicas essas que o dotam de um charme irresistível.



O Mago transformador de palavras em trovas do vento frio que passava, vindo das margens do rio Douro. O Mago Trovador lançando feitiços ás meninas incautas. O feitiço durou até o início da fase seguinte: o raiar do dia, o findar da magia do Mago Trovador, que impávidamente observava a Árvore de Natal a ser abarcada pelo bafo quente do Vampiro Social. Esta Árvore de Natal, de origem pagã foi indissociável da festa de Carnaval. Distribuindo presentes á medida que dançava, naquela orgia de maus hábitos, que era o Maus Hábitos. Prendas e prendas, árvores e árvores iluminando a noite, sorriso nos lábios, copo na mão, lábios no copo e mãos na cabeça e sorrisos na árvore. Ela bem podia ser de todas as cores, tamanhos e feitios, mas não, ela apresentava-se de branco, como se estivesse banhada pela neve numa manhã de Inverno, fresca e fofa. Mas neve nem vê-la, apenas uma chuva tímida humedecia os corpos cansados.



A Menina do Mar alimentou o sonho de quem lá estava, no mundo imaginário, vivido na sala daquele edifício antigo, numa qualquer rua tripeira, recorrendo ao universo marinho, repleto de mitologia no cimo daquele enorme escadario sombrio. Pela janela o rio devolvia as luzes, da parte de dentro um Dominó conversava com um Chulo. Uma Árvore de Natal confraternizava com um Mago. Um ser verde falava com um Vampiro Social. A Menina do Mar era pintada por uma Wednesday mal disposta e carrancuda, aliás, como é seu apanágio. Um ser transformista, de feições grotescas, ornamentado por uma peruca negra assombrava o local.

Ali, a Menina do Mar não conseguia separar a mitologia da imaginação, a relação do homem com a natureza, e a relação dessa mesma natureza com o homem, que já se sua natureza habita a imaginação, pelo menos a minha.

Ela não estava ali para contar a história do rapaz que vive na casa da praia de areia branca e fina, que vem um dia a conhecer uma menina do tamanho da sua mão, com cabelo feito de algas, que vive nas profundezas do oceano na companhia de um polvo, um caranguejo e um singelo peixe. Não! Nada disso. Ela estava lá para o regabofe, para rasgar a noite, para se libertar. Que a Sophia de Mello Breyner Andresen me perdoe, prefiro a versão daquela noite de Carnaval, embora a sua tenha um final bem mais feliz do que a nossa.

A versão original termina deste modo:

«-Agora nunca mais no separamos – disse o rapaz.
-Agora vais ser forte como um polvo.
-Agora vais ser sábio como um caranguejo – disse o caranguejo.
-Agora vais ser feliz como um peixe – disse o peixe.
-Agora a tua terra é o mar – disse a Menina do Mar.
E foram os cinco através de florestas, areais e grutas.»


A nossa acabou assim:

«-Eliana, podes levar o carro? – disse o Mago.
- Não, levo eu que estou como o aço. – disse o Cigano.
- Eu posso levar, não me importo. – disse a Wednesday.
- Apetece-me uma sandes de atum. – disse o Cigano.
- Eu estou bem, rsss, rsss, ronk ronk. – disse o Mago.
E foram os quatro, três a roncar e um a conduzir, um Mago a ressonar, uma Árvore de Natal com os olhos entreabertos, um Cigano a fingir que estava acordado e uma Wednesday já vesga pelo pesar do sono a conduzir, num regresso a casa, secretamente desejado.»




O ser verde, uma Árvore? Uma rocha musguenta? Um arbusto? Um duende habitando na raiz de uma árvore? Sinceramente não sei bem dizer qual o disfarce deste ser hospitaleiro que nos recebeu em sua casa. Tudo o que sei é que era verde, verde e castanha como se fosse um ramo, um enxerto podado pelas mãos calejadas de um modesto lavrador. Talvez fosse uma árvore, cujos frutos, de variedade soberba, se tornavam desejados? Seria ela um fantasma? A maçã é também verde! Ou até mesmo o passarinho verde que nos encanta? Verde, como vinho que nos sobe á cabeça, uma mistura de aroma e leveza? Verde como o Cesário, autor de uma poesia de finos retoques, que retratou de tão bela forma a cidade e os campos? Campos verdes? Verde como o Cabo, ilha que nos revela o esplendor, a sua beleza e magia africana?

Alguém me poderá dizer de que raio foi ela disfarçada!