terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Adeus amiga, adeus companheira



É com enorme desconforto que comunico o malfadado destino da minha estimada enguia. Ela seguiu o caudal do grande rio, o derradeiro, o que leva aos céus. A sua alma permanece agora nas águas serenas do reino celestial.

Fiel confidente, objecto de conversas homem-peixe, onde com toda a sua sabedoria ancestral, me mostrava o caminho. A minha companheira de quarto, a minha inspiração finou, esticou a barbatana num último suspiro, na tranquilidade do fundo do seu, também meu, aquário. Aquário, de onde contemplava a luz do candeeiro, onde via a luz a acender e a apagar, para que começasse a nadar freneticamente.

Aquário onde me sentia compreendido, embora não sabendo nadar, ali me perdia no tempo, no tempo que seguía ao ritmo das imperceptíveis ondas, tempo espelhado no tom colorido das pedrinhas que ornamentavam a sua casa...

Espero que o céu não seja habitado por pescadores, mas sim por enguias como tu, enguias como eu, enguias como nós... Adeus enguia.

Neste dia enguiaste tu
para um próximo enguio eu...